No Zoológico da velha cidade de Quebrados do Sul repousa um animal em extinção. Ao lado do mico-leão, do urso panda e do lobo guará, lá está ele: o briefing. Depois de anos de maus tratos e da perseguição de Atendimentos caçadores, a espécie sucumbiu. E agora vive a agonia de ver morrerem os seus últimos exemplares.
Em tempos melhores, o briefing era um verdadeiro espetáculo da natureza. Reunia todas as informações possíveis sobre um determinado cliente, seu produto ou serviço, seu público-alvo, o mercado, a concorrência, seus objetivos e tantas outras pistas necessárias para qualquer trabalho decente de comunicação.
Para substituir o moribundo briefing legítimo, contundente e revelador, seus carrascos inventaram tipos genéricos, meras imitações de conteúdo duvidoso. Os exploradores de palmito fizeram a mesma coisa. Com a quase extinção da palmeira Juçara, fonte do palmito original, os produtores arrumaram um genérico para substituí-la: a pupunha. E aqui estamos nós, comendo salada de pupunha e achando que é palmito.
Exatamente o que acontece com os briefings lá no mercado publicitário de Quebrados do Sul. É tudo pupunha. Entre os falsos briefings que circulam nas agências da cidade, os mais famosos se multiplicam como praga e música ruim. Conheça algumas dessas espécies.
Briefing Fim-de-Feira, ou Restô Dontê: é um apanhado de dados dispersos, informações desconexas, retalhos e sobras. E a criação que se vire.
Briefing Jato da Mulher Maravilha: invisível, não existe. É apenas um pedido de boca, sem qualquer orientação ou detalhe importante. Geralmente é proferido pelo dono da agência.
Briefing Mobral: vem com mais erros de português que carta de político do interior.
Briefing Viagem no Tempo: aquele que é sempre para ontem.
Briefing Ary Toledo: você lê e cai na risada.
Briefing Crise Existencial: sempre cheio de dúvidas.
Briefing Bala Perdida: coitado de quem encontrar.
Briefing Holerite: é ler e morrer de raiva.
Especialistas em meio ambiente corporativo acreditam que esse quadro alarmante se deve a três grandes fatores: a contratação desmedida de office-boys seniores para a função de Atendimento de agência, a irritação desses profissionais mediante o salário miserável que recebem e a invasão do mercado publicitário pela espécie dos “zé-manés”, principalmente em cargos de direção.
E o que é mais grave: o mal iniciado na pequena Quebrados do Sul está se espalhando e já chegou aos grandes centros. Se nada for feito, em pouco tempo as proporções serão catastróficas. A única maneira de evitar o pior é a preservação. Preserve o planeta. Salve o briefing da extinção. Mande os Atendimentos Desmatadores de volta para a escola ou direto para a cadeia.
fonte: Portal da Propaganda
autor: André Gomes