Crescem críticas de consumidores a propagandas; veja casos inusitados

A criatividade dos publicitários nem sempre agrada a todos os consumidores. Se a propaganda mostra um carro em alta velocidade, há aqueles que entendam como um estímulo à imprudência. Quando há menção bem humorada a uma profissão, surgem os que vejam a brincadeira como ofensa. Quando são usados personagens de histórias de terror, chovem queixas de pais que temem a reação de seus filhos.

A lista de reclamações é tão grande quanto a percepção dos consumidores. De 2009 a 2013, o número de processos abertos pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) a partir dessas críticas mais que dobrou. Com base na lista, o G1 reuniu dez entre as reclamações mais curiosas que acabaram sendo arquivadas.

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“Estímulo à traição e homossexualidade” (H2O limoneto – Pepsico)

A propaganda mostra a conversa de um casal. Em determinado momento, a mulher dizia que estava “sapecando” uma colega de trabalho do seu par. Em seguida, apresentava o novo sabor de H2O.

Reclamação: 30 consumidores disseram que o vídeo era apelativo e estimulava a traição conjugal e a homossexualidade.

Defesa: anunciante e agência afirmaram que o filme não dava curso às acusações e que era veiculado apenas após as 21h.

“Atentado contra a dignidade humana” (OLX – Desapega)

Durante o comercial do portal OLX, o humorista é incomodado por um cachorro “namorador”, que parece estar no cio.

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Reclamação: consumidoras consideraram que o filme atentava contra a dignidade humana ao mostrar um cão excitado perturbando um visitante.

Defesa: o anunciante alegou que a peça publicitária mostrava situação cotidiana.
A relatora propôs arquivamento, voto acolhido por unanimidade, por entender que se trata de filme irreverente, mas não desrespeitoso ou ofensivo.

“Perigo na estrada” (Moto X Smartphone – Motorola)

Na propaganda, o motorista pergunta a seu amigo, que está dormindo, qual caminho certo para seguir na estrada. Ele se distrai, e o carro acaba caindo dentro de um lago. A propaganda sugere que, se tivesse o celular da Motorola, isso não teria ocorrido.

Reclamação: um consumidor carioca reclamou ao Conar que o filme estimulava comportamento irresponsável no trânsito.

Defesa: a anunciante e sua agência consideraram evidente o apelo à comédia na peça publicitária. Alegaram também que acrescentaram frases de advertência no filme.

“Boneco Chucky assustador” (Visa)

No vídeo, uma senhora escolhe o boneco do filme de terror “Chucky”, que faz careta para a funcionária do caixa da loja.

Reclamação: 35 consumidores disseram que, por se utilizar de elemento do universo infantil, o filme inspira medo nas crianças. A isso se soma o comportamento da vendedora, que prefere efetivar a venda a alertar uma senhora de idade sobre o presente inadequado para a neta.

Defesa: a empresa anunciante e a agência defenderam o “óbvio apelo humorístico” da peça publicitária e disseram que o filme foi veiculado nos intervalos de programas assistidos majoritariamente por público adulto.

“Conduta violenta contra ovelhas” (Naldecon – Bristol-Myers Squibb)

No comercial, a gripe é representada por uma ovelha, que é eliminada por um Naldecon, na forma de um golpe de luta ou de uma tora de madeira.

Reclamação: 11 consumidores consideraram que a peça publicitária, produzida em animação e mostrando ovelhas, pode induzir à conduta violenta contra animais por parte de crianças.

Defesa: os anunciantes e sua agência disseram que a linguagem fantasiosa e bem-humorada era entendida como tal pelos consumidores.

“Estigmatização do nome Isabel” (Chester – Sadia)

Durante a ceia de Natal, a família canta uma música e diz que a Isabel estragou a festa porque não preparou um chester, apenas bacalhau.

Reclamação: dez consumidores disseram terem ficado constrangidos com a afirmação contida no filme, de que sem o produto “a ceia fica esquisita”. Eles afirmaram ainda que o anúncio estigmatiza quem se chama Isabel.

Defesa: a anunciante e a agência disseram que o bom humor do filme “é evidente” e que escolheram tal nome apenas pela rima da música.

“Perfumes reconciliam casais” (O Boticário)

O comercial mostra um filho de pais separados tentando fazer com que se reconciliem no Natal. Ele compra escondido dois perfumes no Boticário e finge que um comprou o presente para o outro.

Reclamação: dez consumidores disseram que a propaganda poderia criar a falsa expectativa em crianças de que os pais separados podem se reconciliar mediante um presente da marca.

Defesa: anunciante e agência negam tal possibilidade.

“Discriminação contra os sem lava-louça” (Lava-louça Brastemp)

O comercial mostra um casal lavando louça manualmente, e o narrador da propaganda, perto do fim, pergunta: “Por que você não tem uma mesmo?”

Reclamação: um consumidor de Brasília disse o filme discrimina aqueles que não possuem o eletrodoméstico.

Defesa: a anunciante e a agência alegaram bom humor para justificar a linha criativa do filme.

“Desrespeito ao cantor Biafra” (Bradesco Seguros)

Na propaganda, um assaltante desiste de levar o carro quando surge, no banco de trás, o cantor Biafra. Depois que ele canta uma de suas músicas, o bandido deixa o carro.

Reclamação: para os seis consumidores que não gostaram da propaganda, o filme mostrava “comportamento criminoso” e “incitava o medo para a venda do serviço anunciado”, um seguro automotivo. Alguns dos telespectadores também consideraram que a propaganda desrespeitava o cantor.

Defesa: o anunciante e a agência discordaram que “o simples ato de mostrar um furto possa incitar tal prática”. Os consumidores também foram informados pelo Conar que o cantor concordou em ceder sua imagem à propaganda.

“Mau exemplo de higiene” (Knorr – meu feijão)

Propaganda mostra uma adolescente chegando em casa depois da escola. Ainda com a mochila nas costas, recebe na palma da mão um punhado de feijão cozido para provar e dizer se está bem temperado.

Reclamação: para uma consumidora, isso é um exemplo deseducativo, ainda mais porque, na época em que foi exibido, a gripe havia se espalhado em várias regiões do país.

Defesa: a anunciante e a agência alegaram que tratava-se de uma cena corriqueira e citaram várias outras peças publicitárias onde também não se mostra higienização das mãos antes do consumo dos alimentos.

Muro das lamentações

Os dados mostram que, nos últimos cinco anos, o número de processos instaurados no Conar a partir de queixas de consumidores mais do que dobrou. De 83 processos abertos em 2009, o total pulou para 185 em 2013, de acordo com os dados mais recentes do conselho. Considerando aqueles instaurados por denúncia do próprio conselho ou de empresas, o número sobe para 340.

No entanto, a quantidade de propagandas que sofrem advertências, tem alterações ou acabam suspensas, por recomendação do Conar, não correspondem ao número de processos abertos. Muitos deles são arquivados quando os conselheiros da entidade aceitam a defesa da empresa e entendem que as acusações não têm fundamento.

Para o supervisor de comunicação integrada da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Rodney Souza, os consumidores estão mais conscientes de seus direitos e mais críticos em relação ao que as empresas apresentam nas propagandas. Mas, em alguns casos, acabam confundindo os canais de atendimento e reclamando aos órgãos errados. “Ao mesmo tempo em que alguns consumidores são proativos, também são ansiosos, e o Conar acaba virando o muro das lamentações”, disse Souza.

A função do Conar, de acordo com definição da própria entidade, é “impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas e defender a liberdade de expressão comercial. O Conar não exerce censura prévia sobre peças publicitárias, já que se ocupa somente do que está sendo ou foi veiculado”, afirma a entidade em sua página na internet.

autora: Anay Cury
fonte: G1

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