Nos últimos anos, a profissão de social media se popularizou e se tornou acessível para qualquer pessoa com um celular na mão e disposição para gerenciar perfis. Mas, junto com essa democratização, veio também uma série de práticas questionáveis, muitas vezes adotadas por falta de conhecimento ou simplesmente por descuido. Um exemplo disso é a ideia de que um mesmo profissional pode atender concorrentes diretos sem qualquer tipo de conflito.
Recentemente, presenciei uma – segunda ela – social media, que compartilhou sua visão sobre o assunto: já gerenciava perfis de marcas concorrentes e queria expandir ainda mais sua cartela, assumindo também outras empresas do mesmo segmento. Comentou inclusive sobre a dificuldade de “equilibrar os pratinhos” para manter tudo funcionando sem que nenhuma delas se sentisse prejudicada. O comentário me gerou questionamentos sobre ética e profissionalismo, e não demorou para depois do meu comentário o dela ser apagado. Mas até que ponto essa abordagem faz sentido? Será que os clientes percebem os riscos envolvidos? E, mais importante, que tipo de profissional adota essa postura?
Neste artigo, vamos discutir as implicações dessa prática e por que ela reflete um certo amadorismo no mercado, impactando diretamente a estratégia e a competitividade das marcas envolvidas.
O Problema Ético e Estratégico
Atender concorrentes diretos ao mesmo tempo não é apenas uma questão de organização ou habilidade para equilibrar demandas – é um conflito estratégico evidente. Grandes agências de publicidade e marketing digital evitam essa prática porque sabem que trabalhar para marcas rivais pode comprometer a diferenciação e a competitividade de cada uma.
Quando um social media gerencia empresas do mesmo nicho e com o mesmo público-alvo, inevitavelmente há um compartilhamento de ideias, insights e até estratégias. Mesmo que o profissional tente criar identidades distintas, a influência de uma marca sobre a outra é inevitável. No final, o que deveria ser um trabalho personalizado se torna uma reprodução de conceitos, prejudicando a originalidade de todas as envolvidas.
Além disso, há um fator ético importante: um cliente espera que seu social media esteja 100% focado em impulsionar sua marca e criar estratégias que o diferenciem no mercado. Mas como garantir essa exclusividade quando o mesmo profissional está, ao mesmo tempo, elaborando estratégias para seu concorrente?
O Impacto para o Cliente
Enquanto a social media vê essa prática como uma maneira de “otimizar” seu trabalho e ampliar sua carteira de clientes, o empresário que contrata esse serviço pode estar sendo prejudicado sem nem perceber. Isso acontece porque muitos pequenos negócios não possuem cultura digital suficiente para entender os riscos envolvidos.
Para um cliente leigo, o que importa é ver seu perfil atualizado e engajado. Mas ele dificilmente percebe que seu concorrente pode estar recebendo exatamente as mesmas estratégias, insights e até formatos de conteúdo. Isso faz com que ambas as marcas percam sua identidade e se tornem genéricas no mercado.
O resultado? Em vez de ganhar um diferencial competitivo, essas empresas acabam diluindo seu valor e disputando espaço com táticas parecidas, sem qualquer vantagem real. O cliente pode até sentir que sua marca está ativa nas redes, mas, na prática, está apenas replicando um modelo que seu próprio concorrente também está seguindo.
O Papel do Social Media Profissional
Um social media que se propõe a gerenciar concorrentes diretos ao mesmo tempo demonstra, no mínimo, uma visão limitada do próprio trabalho. Ao enxergar a gestão de redes sociais apenas como um serviço mecânico – onde basta “equilibrar pratinhos” e manter os perfis ativos – esse profissional ignora o papel estratégico que deveria desempenhar para cada cliente.
O trabalho de social media vai muito além de criar posts e responder comentários. Ele envolve construção de marca, posicionamento e diferenciação. E isso só pode ser feito de forma eficiente quando há um compromisso real com os objetivos e necessidades específicos de cada cliente.
Profissionais que atuam dessa forma também se expõem a um grande risco: basta que um dos clientes descubra que sua marca está recebendo um tratamento genérico, igual ao da concorrência, para que a confiança no trabalho seja abalada. E confiança, no mercado digital, é um ativo valioso e difícil de recuperar.
Conclusão
A ideia de “equilibrar pratinhos” entre concorrentes pode até parecer viável para quem encara a gestão de redes sociais como um trabalho operacional. Mas, para profissionais que realmente entendem o impacto do marketing digital nos negócios, essa prática é um reflexo claro de amadorismo.
Empresas que desejam crescer e se destacar precisam de estratégias exclusivas, alinhadas aos seus objetivos e ao seu posicionamento de mercado. E isso não é compatível com um social media que divide seu foco entre concorrentes diretos.
Você é um empresário, vale a pena questionar: seu social media está realmente comprometido com o crescimento da sua marca ou apenas replicando fórmulas genéricas? E se você é um profissional da área, reflita: você quer ser visto como um estrategista de marca ou apenas alguém que diz que gerencia perfis mas é um fazedor de posts sem diferencial?
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