A edição revista do jornal francês Les Echos desvenda o carnaval carioca sob um outro ângulo: o econômico. A publicação demonstra que, muito além dos paetês e do barulho da bateria, a maior festa brasileira funciona como uma verdadeira empresa – e, como tal, em tempos de crise, é obrigada a fazer concessões para atrair investidores.
A reportagem explica que, durante muito tempo, foi o jogo do bicho que sustentou o luxo do carnaval do Rio de Janeiro. Mas, desde que alguns bicheiros morreram, outros tiveram problemas com a Justiça ou simplesmente não tiveram mais dinheiro para bancar os desfiles cada vez mais caros, “os patrocinadores entraram na dança”.
Les Echos diz que, há cerca de 10 anos, a escola Unidos da Tijuca abriu um departamento de marketing, que tem como missão atrair investidores para a apresentação do ano seguinte. A publicidade explícita das marcas na avenida é vetada, mas a mensagem passa sutilmente pelas letras do samba-enredo.
“Há cinco anos, ainda era o diretor artístico quem escolhia o tema do desfile. Hoje, é o departamento de marketing”, afirma, sem complexos, a diretora Fabiana Amorim, à publicação francesa especializada em economia e negócios. “Podemos explorar o tema de uma maneira inteligente, respeitando as características culturais do carnaval. Mas não vamos escolher um samba-enredo que não terá a menor chance de atrair investidores.”
Ditador da Guiné Equatorial bancou desfile da Beija-Flor
A revista lembra que, no ano passado, a Beija-Flor recebeu críticas por ter homenageado a ditadura de Guiné Equatorial. O ditador Teodoro Obiang teria pago R$ 10 milhões para o país ser o tema de uma das mais tradicionais escolas do Rio de Janeiro. Mesmo assim, o escândalo não impediu a Beija-Flor de se consagrar campeã do carnaval em 2015. No mesmo ano, a Unidos da Tijuca prestou uma cara homenagem à Suíça.
“Folclore e negócios, samba e marketing, paixão e razão: essa é a poção mágica do maior evento cultural brasileiro”, diz o texto, lembrando que a crise econômica tornou o financiamento ainda mais necessário. O material importado para fazer as fantasias, por exemplo, está 30% mais caro depois da desvalorização do real em relação ao dólar.
“A questão do samba-enredo patrocinado é polêmica, mas todas as grandes escolas fazem isso. Hoje, se uma escola não tem patrocinador, é simplesmente porque ela não conseguiu um”, resume o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing Marcelo Guedes, à Les Echos.
fonte: RFI
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Vale a pena ler na íntegra a matéria publicada na revista do jornal francês Les Echos.
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