– Onde você estudou design, Caroline? – perguntou a doutora.
– Na Belas Artes.
– Ah, eu adoro arte. – completou em seu consultório, forrado de obras de sua autoria.
A minha dentista é uma pessoa muito querida. Nas horas vagas ela se expressa com as suas tintas e telas em um ateliê na sua casa. Na verdade, o papo de consultório estava acontecendo porque ela precisava de um lugar para expor suas obras e sabia que dava pra fazer isso na internet.
– Você é artista também! – continuou.
– Na verdade eu não sou artista, sou designer, embora a minha formação tenha uma base sólida de plástica e história da arte.
– Acho tudo tão bonito o que vocês fazem…. Quero um site bonito!
– A função do designer não é exatamente fazer coisas bonitas, embora na maioria das vezes isso acabe sendo uma consequência.
– Ah não?
– Diria que o designer tem um tanto de tradutor, técnico e mais um pouco de analista. Pra qualquer projeto a gente acaba aplicando algumas técnicas que dão sentido à tudo aquilo que estamos fazendo.
– Mas e se eu quiser só um cartãozinho de visitas?
– Com o tempo isso acaba sendo tão automático que às vezes nem nos damos conta que aplicamos tudo isso em um projeto simples. Todo trabalho tem uma mensagem a ser transmitida. E é aí que entra o tradutor. No caso, o simples cartão de visitas é simplesmente o SEU cartão de visitas. É tudo aquilo que pretende dizer quando alguém pegar nas mãos e ler o seu nome. A reação que você teve quando pegou meu cartão é um bom exemplo.
– Adorei! É muito simples, diferente, objetivo, bem acabado e elegante.
– E isso tudo que você disse tem muito a ver com os conceitos que queremos levar aos nossos trabalhos.
– Olha só…. E como seria o meu?
– No seu caso, se você já sabe o que quer transmitir, eu traduzo através de técnicas visuais. Exemplo: um grafismo, a tipologia adequada e um papel especial que tenha a ver com o que pretende transmitir. Agora se não sabe, entra um pouco do analista.
Ela riu.
– Sim – continuei – muitas vezes a empresa não sabe bem o que quer dizer e o designer faz um trabalho para investigar o que precisa ser dito naquele momento. Existem profissionais especialistas nisso.
– O que faria no meu?
-É necessário pesquisar, analisar a concorrência, o posicionamento no mercado, as metas, enfim… aí entra um interrogatório. Mas posso adiantar algumas coisas. Gosto de estar no ambiente do cliente para sentir a energia do local, os valores aplicados no ambiente, as necessidades. Eu ousaria em um papel diferenciado para evidenciar sua personalidade artística. Por outro lado ressaltaria a delicadeza e exatidão do seu trabalho em letras de hastes finas e retilíneas. Muita área em branco para delimitar o espaço e o silêncio necessário para a execução do trabalho minucioso de um dentista…
– Olha isso! Eu nunca tinha ouvido ninguém me dizer como é o trabalho de um designer… nunca soube como era feito. Agora vejo diferente! Vamos falar do site?
Inspirada, a doutora seguiu me explicando sobre cada uma de suas obras e sobre a mensagem que queria transmitir no site.
– Você traduz pra mim? – concluiu esclarecida.
autora: Caroline Fülep
fonte: [Webinsider]