É claro que o pessoal que lê essa coluna é muito bem esclarecido e provavelmente domina o inglês (o nosso “latim moderno”), mas não custa nada dar uma relembrada.
Design e designer não são sinônimos. Design se refere ao processo, ao projeto, ao conceito. Designer é sempre uma pessoa, justamente aquele profissional que faz design. Assim, ao contrário do que a gente vê por aí , não existe curso de webdesigner, assim como não existe curso de pintor. Existe curso de webdesign, assim como curso de pintura. Se a divulgação do serviço já tem esse erro, desconfie… ou o profissional não sabe direito nem o que está fazendo ou a escola não sabe o que está ensinando…
Outra pergunta que não quer calar: designer tem que ter diploma?
Essa é uma polêmica, que enfrenta o mesmo questionamento em outras áreas, como o jornalismo. A profissão de designer ainda não é regulamentada, até porque ela é bem recente na história do país, se comparada às clássicas medicina, engenharia e direito.
O fato de um sujeito freqüentar uma universidade não garante de maneira alguma que ele seja um profissional competente e confiável. O que o diploma diz de um profissional (qualquer um, de qualquer profissão), é que ele teve acesso aos conhecimentos necessários para exercer o trabalho. Só. Infelizmente. Todos sabemos que há muitos meios de se obter as notas mínimas para se adquirir um diploma e ninguém pede histórico escolar e nem conversa com os professores para contratar alguém.
Por outro lado, pelo menos há a certeza que aquela pessoa freqüentou uma escola e ouviu falar de conceitos importantíssimos para o design. Se você contrata alguém que não fez um curso superior de design, o risco aumenta bastante, pois significa que essa pessoa aprendeu sozinha. Também como em qualquer outra profissão, pode ser que ela dê um verdadeiro banho em gente com diploma, mas não é isso que se vê freqüentemente no mercado. É mais comum nos depararmos com pessoas que fazem cursos que ensinam a usar um determinado software e se auto intitulam designers.
Por isso, atenção: o fato de uma pessoa saber usar uma ferramenta, não faz dela um designer. Um curso superior de design nem ensina ferramentas… o mais importante para um designer são os conceitos e a cultura do design, a forma de conceber soluções para os problemas, o conhecimento abrangente das conseqüências de se colocar mais um produto no mercado, a preocupação com a qualidade. São quatro anos onde se estuda história da arte e do design, a teoria das cores, metodologias para o desenvolvimento de projetos, ergonomia, elabora-se projetos que serão criticados e avaliados por professores experientes, enfim, é muito chão. Não é que seja impossível de aprender isso tudo sozinho, mas certamente ficarão algumas lacunas na formação que dependerão imensamente do esforço pessoal, do acesso às informações e às oportunidades.
Então, cuidado. Há montes de cursos de “designer” por aí que ensinam você a “mexer” no CorelDraw, FireWorks, DreamWeaver, Flash e outros softwares que auxiliam o trabalho. Muitos são excelentes e você sai dominando a ferramenta, mas isso não transforma você em um designer. Pense bem: só porque um pedreiro é extremamente competente na construção de uma casa, você acha que ele possui condições de projetá-la com segurança, competência, e dentro de todas as normas? O trabalho do designer é essencialmente de projeto. Sempre haverá trabalho para pedreiros e arquitetos, cada um na sua função, as duas igualmente importantes. E está cheio de arquiteto bom que nem sabe fazer uma mistura básica para cimento. Então, ficou claro? “Micreiros” e designers podem e devem trabalhar juntos, mas são funções diferentes. É possível exercer as duas ao mesmo tempo, desde que a pessoa se qualifique para ambas.
Então, como separar o joio do trigo? Ora, como a gente faz para ir ao dentista, ao médico, ao cabeleireiro: pega referências com quem já fez algum tipo de trabalho com ele, olha amostras de trabalhos anteriores, observa a postura profissional, pede informações sobre a sua formação, verifica a escola onde estudou, vê se ele domina os conceitos básicos. Nada que você já não tenha feito para contratar outros profissionais. Mas por favor! Não contrate o seu sobrinho ou o vizinho do seu amigo porque o rapaz “tem jeito para desenho” e “mexe com computador” para um trabalho de responsabilidade na sua empresa. Você contrataria um curioso para fazer o parto do seu filho?
autora: Lígia Fascioni
fonte: Acontecendo Aqui