Mas além de consumidores, a partir do momento em que nos envolvemos com processos de tomada de decisão junto aos nossos clientes, passamos a ser gerentes de recurso e investimento. Dentre as várias escolhas que tomamos ao desenvolver um layout, embalagem, ou qualquer outra forma de elemento gráfico, estão inclusas determinações sobre a produção das peças. Na maioria das vezes, somos nós que definimos quem produzirá o fotolito, que gráfica melhor executa determinada técnica de reprodução, que firma de sinalização fará as peças para um cliente exigente, ainda assim, é surpreendente como nossos fornecedores não investem em nossa atividade.
Recentemente, ao rever meus arquivos de periódicos, ficou claro que um dos mercados que ainda não conquistamos é o dos pequenos e médios anúncios em revistas. O que nos parece grave, principalmente por estarmos tratando de uma das aplicações do design gráfico com melhor custo benefício, se torna catastrófico quando esses anúncios são publicados em revistas que direta ou indiretamente, são voltadas para designers. É degradante como as mesmas empresas que recomendamos para execução de nossos projetos não investem em nós.
Comparando edições antigas destas revistas com seus novos números, podemos perceber que o porcentual de anúncios sem a evidente participação de um designer caiu de aproximadamente 80% para 50% (variando em cada edição e em cada revista). O que aparentemente pareceria uma melhora significativa, na verdade apenas retrata a entrada de empresas de maior porte como anunciantes. Estas, tradicionalmente, compram grandes espaços nas publicações e descobriram há tempos a potencialidade do design na divulgação e venda de seus produtos e serviços. Enquanto isso 70% dos pequenos anúncios continuam omissos à nossa importante participação como mercado consumidor e profissionais incumbidos de tomadas de decisão.
A maior parte destes anúncios são de gráficas, bureaus, empresas de impressão digital, sinalização, cursos de informática, etc que tem em nós um importante referencial na captação de clientes. A tragédia deste fato não está apenas no descaso com que nossos fornecedores tratam dos nossos serviços, mas também por muitas vezes, oferecerem serviços similares aos nossos, com baixos orçamentos e qualidade duvidosa.
Uma dessas empresas recentemente chegou a colocar o seguinte texto em seu anúncio: “Criação e Designer ao seu alcance” … Realmente não entendi se o que ele queria dizer era design, em lugar de designer, o que demonstra que esta empresa oferece serviços de design sem saber nem ao menos a nomenclatura correta, ou será que eles “emprestam” um designer para o cliente. Somos tão insignificantes que já estamos sendo prostituídos? Desta forma em poucos anos estaremos nos semáforos das cidades perguntando: E aí gatinha, interessada em uma programação visual? Vai uma marca aí tio? Poderemos até fazer uma versão do saquinho no retrovisor: “Estou vendendo este logotipo para ajudar minha família, aceito passe, e tick”
A pergunta fica: O que fazer? Reclamar que as pessoas não valorizam o design não adianta. No entanto, como consumidores, temos um enorme potencial de decisão, compreendo que não podemos mudar de padaria porque o letreiro de uma ou de outra é mais bonito. Mas não apenas como designers, devemos exigir, pelo menos destas empresas, uma postura adequada e ética em relação à nossa atividade. De que forma? Da mesma forma que a dona de casa reclama de um produto do supermercado que não atendeu suas expectativas: deixando de consumi-lo e muitas vezes optando por um produto similar mesmo que mais caro.
Pode parecer panfletário, mas funciona.
autor: Guilherme Sebastiany Martins de Toledo
fonte: http://www.grito.com.br