Clara Conti
Diagramar é criar e executar, segundo as linhas fundamentais do planejamento gráfico e de acordo com critérios jornalísticos e artístico-visuais, a distribuição gráfica das matérias a serem publicadas em veículo impresso e prepará-las para as oficinas.
De forma geral, diagramar consistia em:
1. Elaborar ráfis e/ou layouts para o material recebido pelo editor, depois de ter discutido com ele, quando necessário, possíveis alterações;
2. Calcular o espaço que as diversas matérias ocupariam quando impressas, adequando-as ao espaço real existente, mediante cortes e acréscimos sugeridos pelo/ao editor;
3. Riscar o diagrama (ou espelho) com as representações específicas para as matérias;
4. Marcar nos originais de texto, família, corpo, entrelinhado, número de paicas e todos os outros recursos que se queria utilizar;
5. Marcar também nos originais de ilustrações o tamanho de sua reprodução e as características com que serão impressas;
6. Retrancar todos os originais e os espaços onde foram representados no diagrama, liberando-os para as oficinas. (Retrancar, neste contexto, era colocar nos originais e no diagrama indicações que linquem o material com a página correta).
Hoje, diagramador e editor devem se reunir para desenhar a página antes de qualquer matéria ser escrita. Com a técnica de pré-diagramação, o editor sabe exatamente quantos caracteres escrever e as proporções das fotos ou desenhos.
Primórdios da diagramação no Brasil
“Diagramação é a consciência dos elementos gráficos com a estética, o liame (ligação) entre a técnica do jornal e a arte de apresentação. Em outra palavras, a diagramação busca dar o padrão de representação gráfica, ligando harmonia e técnica.”
Juarez Bahia
“Muito nova,(…) é a diagramação no Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial, um novo padrão de gosto circulou aqui nas revistas que relatavam o esforço de guerra, impressas em português nos Estados Unidos. O prestígio das técnicas de diagramação data desse tempo; em particular, de 1941, quando o argentino Guevara veio ao Brasil para trabalhar no jornal Meio Dia. Antes disso, os secretários de jornal costumavam entregar à oficina um boneco (ou boneca), espelho falso desenhado em uma lauda com oito dobras ou traços verticais, querendo marcar as colunas. Ali figuravam os títulos principais, mas não havia possibilidade de cálculo gráfico e a unidade da página se prejudicava. Toda vez que se impunha obedecer ao boneco, eram inevitáveis os cortes com remissão a outras páginas. A escolha de tipos cabia ainda em geral à oficina, de vez que não vigoravam padrões de uniformidade tipográfica.
“O boneco é, de certa forma, uma técnica pré-industrial que fica entre a antiga paginação (presa à tradição de raízes medievais, atulhada de regras mais ou menos arbitrárias e repetidas sempre, com zelo, sem críticas, pelo artífice-paginador das ramas), e o moderno planejamento visual, que leva em conta os elementos estéticos e semânticos do discurso gráfico, com aberturas para a inovação e a definição orgânica de estilos. De resto, na antiga oficina em que se paginava pelo método tradicional, a própria estrutura industrial impediria a fabricação de produto diferente: a qualidade da empresa se media pelo tamanho do catálogo de tipos, fios e enfeites. Apesar das linotipos, serras e calandras, predomina um espírito artesanal que continuava a própria aventura boêmia do jornalismo.
“A diagramação dos argentinos também não representou um passo definitivo. Ainda na década de 50, predominava uma ditadura que propunha um duvidoso conceito do “belo” sobre a conveniência funcional do veículo. Caso muito comum era desenhar o diagrama da primeira página na antevéspera para dar tempo à desaparelhada oficina de realizá-lo, assim transferindo ao talento do secretário a incumbência de colocar na grande manchete ou no pequeno título as matérias do dia, houvesse ou não matérias que merecessem tanto ou tão pouco destaque.
“Na mesma época de 50, as técnicas de diagramação avançaram pouco a pouco, sobretudo nas revistas ilustradas, com o lançamento de Manchete e as formas gráficas de O Cruzeiro. Mas o episódio marcante foi, sem dúvida, a renovação do Jornal do Brasil, inspirada em modelos formais da arte concretista e com certa preocupação funcional que não esqueceu os novos estilos de redação, a valorização das fotografias e o aprimoramento do cálculo gráfico, de modo a eliminar cortes e espacejamentos. A maioria dos jornais brasileiros adotou a diagramação a partir dos êxitos alcançados, em prestígio e eleitores “de qualidade”, pelo Jornal do Brasil.
“A grande invenção do Jornal do Brasil foi despojar o espaço do jornal de elementos estéticos irracionais, que apenas acrescentavam ruído à informação léxica. Os postulados dessa diagramação, no entanto, com as limitações mesmas da escola artística que a gerou, aproximam-se em demasia de uma camisa-de-força atando a criatividade. Observe-se que o Jornal do Brasil, tanto o que foi planejado por Amilcar de Castro, quanto o que se faria posteriormente, com contribuições de Reinaldo Jardim, Alberto Dines e outros, incorpora muitos dois princípios defendidos por Jack Z.Sissors, professor de Jornalismo da North-Western University, em artigo no The Bulletin. Ora, esses princípios derivam servilmente da arte grega e nada há que os torne imperiosos. Na realidade, tanto do ponto de vista artístico quanto de uma perspectiva mais própria da comunicação, pouco importa se consideramos o estilo de O Dia, de O Globo, do Jornal do Brasil, do Jornal da Tarde ou dos tablóides sulinos como Zero Hora; sempre há que se fazer bem feito o trabalho. (…)”
* MATTOS, Manoel José de. Percepção e diagramação criadora. In: Comum, Rio de Janeiro, julho/setembro de 1978, v.1, nº3, p.6
Breve retrospectiva da diagramação no Brasil
Início dos anos 40
* O argentino GUEVARA veio ao Brasil para trabalhar no jornal MEIO-DIA, no Rio, em 1941. Tenta introduzir o cálculo de texto.
* Ele e mais outro argentino, Parpagnoli, constituíram a chamada “escola argentina” de paginação no jornalismo brasileiro.
* A escola argentina era uma imitação de escolas clássicas como inglesas e francesas. Usavam e abusavam de ornamentos e negativos, grisês, excessos de fios, boxes etc.
* Ainda no final da década de 40 e meados de 50, a lauda padronizada era raridade e a contagem praticamente inexistia.
Início dos anos 50
* Aparece a escola CONCRETISTA. Desenvolve-se entre artistas soviéticos no início do século e se caracteriza pela disposição RIGIDAMENTE FORMAL do espaço, das massas e dos volumes, e com a utilização de materiais e técnicas industriais modernas (plásticos, vidros etc). É o despojamento, a simplificação da apresentação e arranjo dos recursos gráficos.
* Valoriza-se o branco. Eliminam-se vinhetas, fios e enfeites.
* Revistas brasileiras foram as primeiras a receber influência, em especial a Manchete, em 1955, que inspirou a reforma do JB, marcando o início verdadeiro da valorização da linguagem visual no país.
* “A origem de tudo está na experiência espacial dos artistas concretos(…)”, diz Gullar.
Final da década de 50
* Mudanças propostas e colocadas em prática por AMILCAR DE CASTRO, um escultor brasileiro que circulava por galerias de arte americanas.
* Castro foi descoberto por OTTO LARA RESENDE, seu colega na Faculdade de Direito de Belo Horizonte, que o levou para a revista Manchete.
* O despojamento gráfico aparece no jornal diário com a reforma do JORNAL DO BRASIL na fase de Odylo Costa (filho). JANIO DE FREITAS leva Castro para o JB. A inspiração de Amilcar é a paginação do Paris-Match. (Não esquecer a leitura obrigatória: LESSA, Washington Dias. Dois estudos de comunicação visual. Rio de Janeiro: Univ. Fed. Rio de Janeiro, 1995. (1ª parte)
Obs. A possibilidade do cálculo gráfico — o pré-estabelecimento do tamanho que os textos ocuparão na página — só se configurou após a adoção generalizada das LAUDAS.
As mudanças implantadas por Amilcar de Castro
* propõe páginas com a verticalidade da composição num confronto com a horizontalidade;
* cria jogos de matérias simétricas com outras assimétricas;
* retira quase todos os fios;
* amplia o claro (canal) entre as colunas;
* adota títulos em caixa baixa;
* padroniza o tamanho e tipo de fontes;
* matérias e títulos sem dobras ou joelhos que prejudiquem a forma retangular da composição;
* no projeto original, as matérias não passariam de uma lauda e meia (na tipografia, resultava retângulos próximos à proporção áurea, em duas colunas)
* uso da lauda padrão de 30 linhas com 72 batidas;
* valorização do material fotográfico, cuja retícula escura servia para trabalhar o equilíbrio estético.
fonte:
compilação: José Carlos Hofmeister
Respostas de 2
Obrigada, me ajudou muito em um trabalho.
muito boa esta matéria sobre digramação, achei bem completa, [e bom pra gente que estuda este conteúdo no curso de design1
Ótimo mesmo
Elisabet Ramos
Esrudante do curso de design na Ulbra-RS