Biodesign, ‘o design do vivo’

O design é uma atividade fundamental na construção da nossa sociedade e na sua projeção no futuro. Na realidade, tudo o que é feito pelo homem tem design. Pode é ser bom ou mau, arcaico ou avançado. E, como em tudo o resto, também neste domínio as mudanças são radicais e velozes. Destaco uma particularmente relevante.

A profunda evolução das ciências da vida – com a revelação da estrutura do ADN por James Watson e Francis Crick (1953), e mais recentemente com a sequenciação do genoma humano (2001) -, tem originado um novo e muito futurista campo para a prática do design. O da manipulação e fabricação direta da vida. O que põe em causa a própria natureza do humano e prefigura a emergência de uma nova entidade que sendo ainda de base humana já não é “naturalmente” humana. Alguns dirão mesmo que os pós-humanos já existem e vivem entre nós, dada a parafernália de próteses, implantes e transplantes, mas também de extensões tecnológicas, amplificações sensoriais e ubiquidades através de avatares e telepresenças.

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Regressa assim em força o debate sobre o eugenismo, do latim “bem-nascido”, enquanto aperfeiçoamento de capacidades, erradicação genética de doenças, prolongamento da longevidade. O eugenismo, como ideologia, é sobretudo a expressão de discriminações, racistas, étnicas, sexistas, preconceituosas, recorrendo a métodos de seleção, que promovem os mais aptos, capazes e bonitos, e subsequente marginalizam ou mesmo eliminam os defeituosos, pouco inteligentes e feios. A história é conhecida, desde essa ideia totalmente errada da existência de raças superiores, à grosseira criação de bancos de esperma de génios, como se um génio não pudesse ter um filho idiota. Já no século 19, Gregor Mendel, nos estudos sobre a hereditariedade, explicou como isso é perfeitamente possível.

Hoje o eugenismo, no sentido original do “bem-nascido”, e uma vez descartadas as ideologias racistas, regressa com uma argumentação assente na viabilidade de melhorar o humano por via da genética. Já não se trata de selecionar os mais aptos, mas de os fabricar. Daí que tenha tanto apoio na opinião pública e no próprio meio científico. Quem é que, podendo, não quer evitar que um filho seu possa desenvolver a diabetes?

Outra forma de melhoramento do humano prende-se com uma expansão das suas capacidades e da longevidade por via de uma simbiose tecnológica. Através das novas tecnologias da informação, da nanotecnologia, da robótica e das ciências do artificial será possível ampliar a inteligência, o fitness e o tempo de vida.

O conceito de biomimetismo, que descreve o design inspirado nas soluções da natureza – de que o Velcro inspirado na semente do Arctium é um bom exemplo -, vai-se tornando assim num biodesign, no sentido do design do vivo. Moléculas, células, tecidos, órgãos, corpos inteiros, deixaram de ser produtos exclusivos da natureza, para se tornarem artefactos criados pela ação humana. Num contexto em que as fronteiras entre o natural e o artificial também se desvanecem.

A ação do biodesign, nesta nova aceção, é de momento preponderante nos organismos não-humanos. Nas plantas, a modificação genética induzida por ação humana, é uma atividade praticada há milénios nomeadamente através da enxertia. Mas agora existem os meios para manipular e combinar ao nível dos próprios genes produzindo plantas mais robustas, de crescimento mais rápido, resistentes a pragas e doenças. Os tão polémicos transgénicos misturam organismos e espécies diferentes. Embora mais conhecidos nos vegetais também existem transgénicos animais e mesmo combinações entre os reinos vegetal e animal.

Neste panorama, a biotecnologia veio transformar a forma como se entende a vida, gerando novos campos de estudo, aplicação, design e engenharia determinados pelo biológico e pelo genético.

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O biodesign dedica-se assim à modificação e criação de organismos, quer numa perspetiva de melhoramento de qualidades, quer para fabricação ou manipulação de outros organismos. Ou seja, certos organismos são criados como fábricas de organismos.

Julgo que as nossas escolas de design, algumas excelentes, ainda não dão suficiente atenção a estas questões. Mas fazem mal. É que o futuro vai mesmo passar por aqui.

autor: Leonel Moura
fonte: Design Org / Jornal de Negócios de Portugal

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