Conheço duas pessoas que recusaram empregos em duas grandes empresas brasileiras. Talvez isso não fosse grande coisa se ambas não tivessem 20 e poucos anos e trabalhassem em pequenas empresas. Dois jovens profissionais muito bons no que fazem e que, certamente, teriam crescido dentro dessas empresas se tivessem aceitado a proposta.
Mesmo tomando a mesma decisão, o motivo foi diferente. Aliás, os dois são bem diferentes no que diz respeito a formação acadêmica, cultura, objetivo profissional e até estado civil. Enquanto um deles não aceitou por ter que ganhar menos (mesmo tendo grande chance de crescimento), o outro recusou um alto salário (e grande chance de crescimento) pra continuar perto da família e dos amigos.
Esses 2 casos me marcaram, talvez porque são de pessoas próximas a mim, ou talvez porque eu agisse completamente diferente se estivesse na pele deles. Seja qual for o motivo, isso me faz refletir toda vez que penso na minha carreira.
Uma coisa eu sempre tive bem claro: um emprego não é só um contra-cheque feio ou bonito no final do mês. Também não é um chefe que pega no seu pé, um colega fofoqueiro, ou um cargo que lhe obriga fazer sempre a mesma coisa 365 dias por ano. Um emprego é algo que lhe projeta, de alguma forma o ajuda a alcançar seus objetivos. Qualquer outra coisa é perda de tempo.
Elaborando a minha velha teoria, esbocei três coisas que considero vitais para saber se estamos no lugar certo ou só perdendo tempo:
O que você pode aprender
Esse talvez seja o item de maior peso no começo da carreira de todo mundo e é justamente por negligenciar ele, que muitos jovens profissionais nunca chegarão “lá”.
O que a empresa onde você trabalha pode te ensinar? Algumas oferecem cursos de graça, parcerias com instituições e treinamentos que podem tornar seu currículo mais atraente. Mas bom mesmo é ter a oportundiade de trabalhar com um grande profissional que pode lhe passar um pouco da experiência e do conhecimento dele. Isso não tem preço.
Pense em como você poderia aprender mais na sua atual empresa, com os clientes e com os fornecedores dela. Nem que precise trocar de área ou de função. Na pior das hipóteses, você muda de emprego.
Aonde ele pode te levar
Quando estava no 3º ano da faculdade de propaganda decidi que não queria trabalhar com propaganda. Dois anos depois, estava eu sentado com o meu dupla pensando em ideias para uma campanha de natal.
Alguns anos e umas agências depois, comecei a trabalhar com marketing em uma grande empresa. Tudo que eu queria! A questão aqui é: um emprego pode não te ensinar nada de novo, pode pagar mal, mas te levar ao emprego que você sempre quis.
Talvez o melhor fruto que um emprego pode render sejam os relacionamentos. Colegas de trabalho viram amigos da família, clientes tornam-se patrões, fornecedores formam sociedades com ex-funcionários. No mundo dos negócios, tudo é possível e até o impossível depende de você. Trate bem as pessoas, se dedique, ensine e deixe-se ensinar.
Sacrifício exigido
Grana! Vamos falar do que realmente importa pra maioria: dinheiro. A primeira que pensamos quando surge uma nova oportunidade de emprego é “qual é o salário?“, mas quase ninguém pergunta “vou ter que fazer muitas horas extras?”, “posso desligar meu celular nos finais de semana?”, “vocês pagam hora extra ou dão folga?”.
O sacrifício é qual é o preço que se paga pelas vantagens que ele oferece. Por exemplo, um grande amigo uma vez conseguiu um estágio na famosa agência DPZ. Ele já era um publicitário cobiçado na sua cidade de origem e ganhava bem para os padrões. Também ganhava pequenos prêmios por onde passava. Entrar para uma agência grande é o sonho de quase todo jovem publicitário. Também era o dele até começar a trabalhar em uma. Ele aprendia muito, tinha grandes chances de crescer, mas o sacrifício exigido era enorme. Trabalhar aos sábados, sair de madrugada da agência e ganhar o mini-salário de estagiário foi demais para ele. O mesmo acontece quando se tem um salário alto, na maioria dos casos significa sacrificar momentos com amigos e a família. Por isso, cada vez mais executivos estão trocando grandes empresas por empresas menores, flexíveis e com salários modestos.
O quanto sacrifício você pode suportar depende de cada pessoa. Basicamente, da situação financeira, dos planos e projetos pessoais e profissionais. Uma vez li uma matéria com uma mulher que trabalhava só para viajar. Obviamente, ela também pagava contas, mas passava 2 anos juntando dinheiro para viajar para países diferentes. A tendência é que quanto maior o objetivo, mais alto seja o sacrifício que a pessoa esteja disposta a fazer.
O que você pode aprender hoje, aonde ele pode te levar amanhã e o quanto você está disposto a sacrificar para chegar lá?
As três coisas dependem de você. Nenhuma empresa vai se oferecer para treinar você, nem vai te ajudar a conseguir os contatos certos para o futuro, tampouco oferecer um aumento pra assegurar que você nunca deixe a empresa. Tudo depende de você, dos seus objetivos e da sua disposição.
autor: Sylvio Ribeiro
fonte: http://www.pequenoguru.com.br/