A velha máxima diz que a primeira impressão é a que fica. No mundo da publicidade, especificamente para os profissionais de criação, o portfólio é o “cartão de visita”. Ele pode ser fator decisivo entre a contratação ou não de um profissional para determinado job ou cargo na agência.
Mas como montar um portfólio criativo? Há um jeito certo para fisgar a atenção de quem está analisando sua pasta? Quais os pecados mais graves cometidos por aqueles que divulgam seus trabalhos? Há ferramentas que facilitam a promoção dos jobs já feitos? Pensando em responder tais questões, o Adnews ouviu grandes diretores de criação para obter as respostas.
Os nomes por trás das dicas abaixo são: Eric Sulzer, diretor de criação da WMcCann; Guiga Giácomo, diretor de criação da Ogilvy; Paulo Melchiori, diretor executivo de criação da R/GA; Sergio Mugnaini, diretor de criação da Loducca; André Pedroso, diretor de criação da DM9DDB; Tati Palladino, VP de criação e planejamento da b!ferraz e Gustavo Victorino, diretor de criação da Wieden+Kennedy.
Portfólio: físico ou online?
A primeira questão feita pelo Adnews aos criativos foi: você prefere avaliar a pasta do criativo de maneira online ou física? “O primeiro contato prefiro que seja online mesmo. É uma maneira de filtrar. Caso a pasta ainda seja muito júnior tento ajudar de uma forma objetiva dizendo o que precisa ser modificado”, diz Pedroso, da DM9.
Para Mugnaini, da Loducca, o formato digital facilita a atualização, atinge pessoas que você nem imaginaria que veriam sua pasta e ainda possui os recursos de vídeo, áudio e interatividade. “Quase me esqueci: em muitos casos, é de graça”, completa.
Além de tudo isso, você também economiza dinheiro e não fica refém de processos de impressão, conforme explica Tati, da b!ferraz.
Mas tome cuidado. “Em uma entrevista, aconselho que todo o trabalho esteja no HD do computador ou tablet, pois nem sempre o sinal da internet ajuda”, diz Gustavo Victorino, da Wieden.
Quais ferramentas utilizar?
E na hora de montar o portfólio na web, existe uma plataforma que seja melhor? Sulzer, da WMcCann cita alguns exemplos. “Behance, o próprio Cargo Collective e o Squarespace são sites que ajudam bastante e deixam o portfólio bem bacana”, diz. Mas o criativo alerta. “Não se deve confundir a pasta com o conteúdo dela. O que mais importa é a qualidade criativa dos trabalhos, a organização do portfólio de uma maneira geral e o critério de escolha das peças. Todo portfólio conta uma história e, eu pelo menos, fico muito atento ao que é contado por ele”, ressalta.
O Cargo Collective também é o preferido de Melchiori, da R/GA. “É mais simples, fácil de navegar e visualizar os trabalhos. Além disso você pode seguir pessoas que você admira, e ficar sabendo dos novos trabalhos e das mudanças na carreira deles”, conta.
“Já vi portfólio no Tumblr, no Keynote, mas o site mais amigável é o Format (aqui)”, conta Pedroso, da DM9.
Mas a plataforma de nada adianta se o trabalho ou a história que seu portfólio contar não estiver clara. “Pra mim tanto faz, dando para entender cada peça, o portfólio funciona, se não, a ferramenta não adianta”, ressalta Giácomo, da Ogilvy. Tati, da b!ferraz, concorda: “Não acho que a plataforma seja relevante. O que importa é a organização e a visibilidade das peças. Você tem que saber vender seu trabalho”.
Qual critério para colocar os trabalhos na pasta?
Este é um ponto importante, mas também muito pessoal. “Critério é um negócio que você só desenvolve com o tempo e com ajuda de muita informação. O que é bom para mim pode não ser bom para um colega de trabalho na mesa ao lado. Sendo assim acho que o cara que está começando precisa se informar sobre quem vai ver o portfólio e montar de acordo com o que aprender sobre ele”, diz Pedroso. “Já recebi pessoas que não sabiam se eu era redator ou diretor de arte. Isso é inconcebível. Você precisa se informar. Se você é redator coloque os trabalhos que valorizem o seu texto, os seus títulos, os seus raciocínios. Se é diretor de arte valorize seu talento da mesma forma. Não encha o portfólio de cases fantasmas no início. Deixe aquilo que você realmente considera diferenciado. Peça ajuda dos amigos, pergunte para profissionais mais experientes se você tiver contato”, completa.
Para Tati, não existe fórmula mágica. “Coloque boas peças, boas ideias. Pratique o desapego. Menos é mais. Mais qualidade, menos quantidade. Para diretores de arte, sempre vale uma peça que mostre apuro especial com a imagem, como um olhar diferente de ilustração, de fotografia. E para redatores, textos, pelo amor de Deus. Você ainda precisa saber escrever, sim, para ser redator”, enfatiza.
Já Melchiori dá uma dica: pensar no portfólio como um grande vídeo case da sua carreira recente. Qual é a mensagem principal que você quer passar? Por que os trabalhos são relevantes? O “jurado” vai conseguir entender em pouco tempo? Tudo isso deve ser considerado na hora de escolher e descrever cada peça.
O que nunca fazer?
Para Tati, é preciso evitar os eternos títulos de duplo sentido, as montagens de Photoshop sem pé nem cabeça. Já Victorino ressalta que não diversificar os meios é um pecado mortal. “Não existe mais a desculpa do ‘criativo on ou off’, hoje todo mundo é cobrado a fazer tudo”, diz.
Segundo Pedroso, não tem nada pior do que narrador de portfólio. “A conversa deve acontecer ou antes ou depois do portfólio ser analisado. Durante, deixe o profissional olhar. Porque se você interrompê-lo a cada trabalho, nada será visto com atenção merecida”, comenta.
“O portfólio de um criativo deve mostrar um trabalho de um criativo. Em muitos casos, o portfólio acaba sendo mais criativo do que o trabalho em si”, comenta Mugnaini. Melchiori pensa parecido. “O portfólio online deve ser simples, direto e fácil de navegar porque é o trabalho que deve brilhar. Canso de ver portfólios super conceituais, complexos e pesados. Além de dificultar pra quem está avaliando, um portfólio complicado passa a impressão de falta de conhecimento técnico e imaturidade.”
Sulzer reflete que um dos grandes erros é colocar na pasta todos os trabalhos que o criativo já fez na vida. “Ou aqueles que ele sofreu tanto para fazer que se apegou”, diz. É preciso critério. “O portfólio tem de ser homogêneo, manter o nível do começo ao fim. Um anúncio ou uma ideia fraca no meio podem derrubar a nota final”, completa.
Já Giácomo crê que não existe um pecado mortal. “A pasta é mutável, se ela é ruim hoje, ela pode ser brilhante daqui a 1 ano”.
O que sempre fazer?
E o que os diretores recomendam como regra? “O que eu acho que os criativos devem fazer sempre é renovar sua pasta, deixá-la sempre novinha em folha. E, claro, cada vez mais com ideias melhores e mais bem produzidas”, comenta Sulzer.
“Minha recomendação: keep it simple! Invista seu tempo em escolher os trabalhos certos, tratar imagens e textos para mostrar o seu melhor”, recomenda Melchiori.
Já Giácomo acredita que o criativo nunca deve se acomodar. “O que deve ser feito é sempre melhorar o trabalho, sempre, assim a pasta vai ter cada vez menos erros: mais trabalhos na rua, mais criatividade e brilhantismo”.
Honestidade também é obrigação na pasta. “Seja fiel à ficha técnica. Se você foi o assistente naquele anúncio, excelente. Se você foi o redator que teve a ideia e teve mais dois redatores que trabalharam com você, não deixe de colocar”, ensina Mugnaini.
Victorino é outro que defende a atualização da pasta. “Uma atitude que todo mundo deveria fazer em qualquer momento da carreira é estar sempre com a pasta atualizada. É difícil, a gente sempre protela, mas pode ser decisivo”, alerta.
Por fim, não esqueça que você é uma pessoa
A conversa, o contato com o criativo é fundamental para quem analisa a pasta e para o próprio analisado. “Caso você o contrate, você vai conviver todos os dias com ele”, comenta Sergio Mugnaini, da Loducca. “Gosto muito de ver um trabalho pessoal. Todas as pessoas têm um hobby, um prazer, algo que fazem fora do trabalho. E, em muitos casos, esse trabalho é tão interessante quanto o trabalho criativo. Não deixe de colocar na pasta”, recomenda.
Melchiori, da R/GA, tem opinião parecida. “É importante lembrar que ideias proativas e projetos pessoais podem contar muito. Outro dia vi um portfólio de um garoto que usou seu tempo livre para fazer versões conceituais de aplicativos para Google Glass. Nem todo mundo tem a oportunidade de desenvolver trabalhos inovadores no seu dia a dia, mas qualquer pessoa que tiver conhecimento técnico, criatividade e iniciativa pode fazer um portfólio invejável”, finaliza.
autor: Leonardo Araujo
fonte: Adnews