A síndrome do “novo conceito”

Passei quase 10 anos da minha vida sendo um pregador fervoroso de ideias originais e a importância de usar a criatividade em tudo. Por vezes, defendi ideias que nem eram as melhores, mas eram diferentes. À beira dos meus 30, comecei a refletir sobre o real valor de se buscar sempre o novo dentro das empresas. Será que ele ainda existe? Percebi que, se não é uma utopia, é no mínimo uma prática de pouco sucesso no mercado. Simplesmente, não é assim que as coisas dão certo na maioria das vezes.

Enquanto estava incubando para escrever este artigo (anotei a ideia há meses), li o texto “A originalidade não existe” do escritor português João Coutinho, em que ele falava da Lolita (sim, aquela mesma), era o estímulo que eu precisava para escrever logo sobre o que eu batizei de “a síndrome do novo conceito”, porque as empresas simplesmente adoram essa frase, mesmo ela sendo vazia e fantasiosa. Voltemos 97 anos no tempo, ao que parece, a “verdadeira” Lolita acabara de ser escrito 39 anos antes de ficar mundialmente famoso pelas mãos de Vladimir Nabokov. O russo Nabokov tinha apenas 17 anos quando Heinz von Lichberg escreveu um conto sobre um romance entre um adulto e uma pré-adolescente. O mesmo nome, praticamente a mesma história, muitos anos antes, em outro país; parece a oportunidade perfeita para reutilizar uma ideia com potencial, em outras palavras,copiar. Mas será que Nabokov copiou mesmo? Será que ele sequer leu?

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Não importa. O que Nabokov fez ou deixou de fazer acontece todos os dias em milhares de agências de publicidade, escritórios de design, produtoras, empresas e até com escritores e outros profissionais criativos. Com 1,8 trilhão de gigabytes de informação sendo gerada no mundo a cada dia, é ingênuo pensar que é possível criar algo novo, único e revolucionário todos os dias. Embora afirmar que o novo não existe seja muito perigoso, é sensato considerar que ele, na maioria das vezes, não é vantajoso.

O novo ainda existe, só está diferente

Empresas estão mais ágeis do que nunca. É claro que elas continuam precisando criar produtos inovadores, realizar ações relevantes e de campanhas publicitárias originais, mas pressupor que você e sua empresa será capaz de entregar algo nunca visto antes beira à prepotência. A chave para inovar em uma época cada vez menos inovável parece estar em como você vê a inovação. Se inovar ou ser criativo para você é criar algo único e original, então terá problemas. Porém, se você vê a inovação como um processo de transformação, a criatividade mais um uma grande colagem de conhecimentos, ideias e conceitos, as chances de ser bem sucedido e menos frustrado aumentam muito. O novo de hoje é o que Malcolm Gladwell chamou de “tweaking” em sua palestra em Cannes em 2011, quando ele disse que você não precisa ser inovador para ser empreendedor. Melhore o que já existe, faça como Steve Jobs que pegou produtos que já existiam e os tornou febre no mundo. Palavras do próprio Steve:

“Quando algo fica legal, você não deve perder muito tempo nisso. Pense logo no que vem a seguir.” (Steve Jobs)

O velho novo, isto é, a criação de algo único e inédito é praticamente uma utopia nos dias de hoje. Ela até pode existir, mas é um desperdício de tempo, dinheiro e energia. As pessoas que mais defendem as superideias geralmente são aquelas que acabam copiando algo.

É possível ser incrivelmente bem-sucedido utilizando velhas ideias que deram errado, que são mal aproveitadas ou desconhecidas do grande público. Poucos negócios nasceram de uma ideia realmente nova. Aliás, “novo” é percepção. Veja o caso do Red Bull, para o mundo todo, o Red Bull foi considerado algo novo e único, afinal ele criou uma categoria de quase $40 bilhões. Mas com certeza os tailandeses da década de 80 teriam considerado uma cópia descarada e não trocariam o seu Krating Daeng pela versão européia mais moderninha.

ATENÇÃO!!

Quero deixar claro que não é porque o novo é praticamente inalcançável, que devemos poupar tempo e copiar tudo. Fato é que em vez de concentrar as energias em criar algo inédito, devemos concentrar as energias em criar algo que solucione problemas, que acrescente tanto ao original e que seja percebido como algo novo, e não uma cópia. Como disse Lee Clow, uma lenda viva da publicidade, “Quando deixamos de ser obcecado por criar algo novo, temos mais chances de criar algo que vale à pena”. Pense em criar algo que valha à pena, e se for novo, ótimo!

Existe uma porção de exemplos de sucesso de ideias que vem dando certo de novo e de novo. Por exemplo, se você pensa em abrir um negócio diferente, não precisa criar algo inovador, basta pegar a ideia em algum lugar do mundo e estudar a viabilidade local. Ele pode ser inovador na região, mas está literalmente longe de ser novo. Se quiser menos trabalho ainda, pegue uma franquia.

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A criatividade não está na concepção da ideia, mas no olhar diferente, na nova abordagem. Um bom exemplo brasileiro é a banda Sambô, um grupo que transforma rock em samba, esse é o novo “novo”. Nem mesmo a ideia de dar nova cara a clássicos do rock é nova; na França, o grupo Nouvelle Vague há 10 anos cria versões em bossa nova de bandas clássicas como The Cure, Joy Division e The Clash. Até um bom livro pode não ser totalmente novo. Dois dos melhores livros que li em 2012 e 2011 – “Como Influenciar a Mente do Consumidor” e “100 Things Every Designer Should Know About People” — foram compilações de estudos de outros autores. São livros incríveis, que deram um trabalho enorme, mas eles utilizaram fatos que já existiam, não criaram nada — a menos que você mude o seu conceito do que é criar.

Assumir que não há nada no mundo que já não tenha sido criado pode tornar profissionais mais produtivos, uma vez que eles se libertarão da obrigação de criar algo novo. Com tanta informação no mundo, nosso trabalho se tornou mais complexo, temos que aprender a extrair soluções dessa montanha de dados (Big Data). Copiar é prático e até pode levar ao sucesso, mas empresas inteligentes sabem que transformar é o que vence o campeonato. Trabalhar no século XXI é como ter todos os ingredientes que precisamos na nossa frente, só precisamos misturar da maneira certa para tirar algo interessante do forno.

autor: Sylvio Ribeiro
fonte: http://www.pequenoguru.com.br

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