Redução da publicidade exigirá reinvenção da mídia impressa

Analistas presentes na 68ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) discutiram sobre a busca de um novo modelo economicamente viável

O advento da internet e a drástica queda de receita publicitária puseram um fim no modelo de negócio da imprensa tradicional, que precisa desenhar novas vias de financiamento perante uma ‘revolução’ que ameaça sua existência, disseram neste sábado os especialistas reunidos na Assembleia da SIP em São Paulo.

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A busca de um novo modelo economicamente viável foi o elemento-chave de discussão na segunda jornada de debates preliminares da 68ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

O jornalista e professor brasileiro Rosental Calmon Alves, especialista em veículos de comunicação social da Universidade do Texas (EUA), defendeu que a sustentabilidade econômica da imprensa acontecerá a partir de vários mecanismos.

‘É uma revolução comparável à de Gutenberg’, disse Alves, que acrescentou que o problema não é a circulação de jornais impressos, que vem se reduzindo há 60 anos, mas a drástica queda de receita pela publicidade.

Calmon Alves disse que a crise não é o fim dos jornalistas nem do jornalismo, já que os contadores de histórias existiram ‘desde as cavernas’, mas apelou à necessidade de criar novos modelos para subsidiar o jornalismo e diminuir a dependência da publicidade ‘que não vai voltar’.

‘É uma lógica comunicativa nova’, resumiu o especialista, que previu que o jornal impresso será um produto cada vez mais caro, até se tornar um objeto de luxo de difícil venda.

O presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián, disse que ‘ninguém tem a resposta’ sobre as novas vias de financiamento, durante um debate que analisou modelos economicamente sustentáveis para o futuro da imprensa.

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Cebrián, que preside o grupo editor do jornal ‘El País’, lembrou que nenhum veículo migrou do papel para versões digitais com sucesso de rentabilidade econômica.

‘Ninguém conseguiu rentabilizar nem migrar com sucesso’ para a rede, disse Cebrián, afirmando que não existe um único modelo de negócio.

Cebrián analisou o cenário da queda de receita publicitária e explicou que para cada dólar líquido de publicidade gerado nas redes são destruídos 10 no jornal impresso.

‘Essa é uma revolução sangrenta’, declarou Cebrián, quem antecipou que só na Espanha 7 mil jornalistas perderão o emprego em um período aproximado de três anos.

Cebrián ponderou sobre as fórmulas surgidas no calor das novas tecnologias, como o jornalismo cidadão e o fenômeno Wikileaks.

‘O Wikileaks é jornalismo investigativo ou simplesmente vazamento (de informações)?’, questionou.

Em uma conferência posterior, o ex-diretor-presidente do Grupo Estado, Silvio Genesini, defendeu o pagamento pelos conteúdos jornalísticos na internet e fez um apelo para que os veículos online ‘estudem mais a fundo’ os ciberleitores, com o objetivo de oferecer um produto ‘mais especializado’.

Enquanto isso, Judith Brito, representante da Folha de S.Paulo, afirmou que o jornalismo de qualidade é caro e por isso a independência informativa ‘exige saúde econômica e financeira das corporações’.

O porta-voz da Infoglobo, Marcello Moraes, asseverou que ‘cada veículo tem que buscar sua própria solução frente à diversificação dos negócios na internet’ e deu como exemplo o modelo do jornal americano ‘The New York Times’, que cobra por alguns conteúdos digitais.

No entanto, os palestrantes coincidiram em que a venda de conteúdos não significa ‘a salvação’ das empresas jornalísticas.

Também participou hoje o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda, que criticou a excessiva concentração dos veículos de comunicação na América Latina e defendeu uma ‘responsabilidade’ maior da imprensa.

Castañeda opinou que o surgimento das redes sociais não substituirá os meios tradicionais e detalhou que para que um fato comentado no Twitter se torne ‘assunto nacional’ ainda precisa ser destacado pelo jornal da noite.

autora: Marta Berard
fonte: Exame – Marketing

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