Mesmo que nos dias atuais a velocidade de inovações tecnológicas seja maior e a necessidade de possuir os produtos inovadores seja cada vez mais presente, observa-se que grande parte dos produtos que aparecem como uma nova “febre” ou tendência, nada mais são do que aprimoramentos de um produto anterior. Não que isso diminua a funcionalidade ou mérito da invenção de aprimoramento, é apenas uma constatação de um novo cenário em que os produtos se tornam obsoletos com maior rapidez e o mercado assim mantém movimentado com demandas sempre positivas.
O aparelho celular, por exemplo, surgiu como um aprimoramento ao telefone fixo. Um telefone que poderia ser utilizado em movimento. Ao longo dos anos, foi sendo aperfeiçoado como novas funcionalidades como câmera digital, GPS, acesso à Web, televisor, rádio, entre outros que podem estar sendo criados neste exato momento em que escrevo esse texto.
As novas funcionalidades e aprimoramentos dos produtos são encarados, para a maioria das pessoas, como verdadeiras necessidades já que os produtos que possuem não oferecem tudo àquilo que a nova versão oferece. E essa “necessidade” é induzida a partir de estratégias dos fabricantes e suas propagandas que nos levam a crer que a tecnologia que possuímos não atinge mais nossas necessidades e de uma construção social de um “precisar” ou “ter” onde, por exemplo, observa-se a inclusão ou exclusão de uma determinada pessoa em um grupo pelo critério desta possuir ou não uma nova tecnologia.
A obsolência programada é o nome deste “fenômeno” do curto tempo de duração ou rápida obsolência de produtos ou tecnologias. É quando as empresas produzem algo que poderia durar mais do que tecnicamente é possível. “O produto é fabricado para durar menos horas, dias ou anos e perder qualidade de tal forma que se torna totalmente ineficiente, exigindo sua substituição por outro revitalizado pelas características próprias do que é novo: vigor e eficiência. Assim, uma lâmpada que pode durar 5.000 horas ou mais é fabricada para durar apenas 1.200 ou menos, inutilizando-se em curto espaço de tempo. Tudo para aumentar o faturamento – quanto maior melhor – e em prejuízo do bolso do usuário e da degradação do meio-ambiente.”¹
Mesmo que alguém opte por dar manutenção a um produto que ainda possa ser recuperado, logo muda de idéia porque muitas vezes a manutenção é mais cara do que um produto novo ou tem uma valor muito próximo. Nesse caso, quando as pessoas optam por adquirirem um novo aparelho, o antigo geralmente é descartado em lixos comuns sem que para esse produto haja um destino correto para a seleção e possível reciclagem ou armazenamento que não cause danos ao ambiente. As cidades ainda não dão um destino sustentável ao lixo e nem as empresas se preocupam muito em organizar uma coleta ecologicamente correta. Além do problema da geração de lixo eletrônico diretamente no meio, a produção dessas tecnologias e seus produtos finais são responsáveis pela extração desenfreada de muitas riquezas minerais esgotáveis e outros recursos naturais.
Dentro da TI Verde, quando existe uma nova proposta de produto ou componente tecnológico ecologicamente correto nem sempre sua implantação é tão “ecológica” assim, pois, para a substituição pela nova, mesmo que seja de apenas um componente, quase toda a estrutura eletrônica da qual ela faz parte deve ser trocada porque os encaixes são diferentes, as tecnologias podem ser incompatíveis e outras incongruências podem impedir que seja realizada apenas uma substituição simples. Alguns “green chips”, por exemplo, não são possíveis de serem substituídos sem que vários outros componentes de uma máquina também sejam trocados, então, o resultado algumas vezes pode ser infeliz, tendo em vista a grande quantidade de lixo eletrônico a ser gerado nessas trocas.
E o lixo eletrônico já é um grande problema para a humanidade. Estatísticas² apontam que todo ano cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são descartadas em todo o mundo esses dejetos causam danos gravíssimos ao ambiente e aos seres vivos, pois alguns desses equipamentos possuem substâncias tóxicas como o mercúrio, por exemplo.
Nesse contexto faz necessária uma reflexão acerca da obsolência eletrônica e do sistema capitalista como um todo. Não se sugere aqui pensarmos numa grande revolução, derrubar o capitalismo ou viver numa ilha como o “Wilson”, mas sim voltar o olhar para nós mesmos e repensar nossas necessidades. Se realmente precisamos de uma “geladeira que diga bom dia”, um celular que tenha uma câmera de “infinitos mega pixels” e quanto valor devemos dar ao fruto de nosso trabalho, a nossa relação e dependência da natureza, e o quanto podemos agir sem sermos tão manipulados como as criancinhas que crescem ouvindo aquela propaganda medonha “Compre o chocolate, Compre o chocolate, compre o chocolate” (que não diremos o nome para não fazer o “merchan”) ou aquela outra da tesourinha “Eu tenho e você não tem!”.
Pensem… E eu estou aqui pensando…
autora: Marina Reyes
fonte: Sustente Verde
Comprar, tirar, comprar
Documentário sobre a obsolescência programada. Já aviso que o vídeo é longo, mas vale a pena ver!
Uma resposta
ÓTIMO TEXTO & BOM CONTEUDO!!!