As garotas propaganda são também parte da história da televisão em seu início pioneiro, ousado e inventivo. Diante da sofisticação da TV atualidade, parece incrível que tudo fosse transmitido ao vivo: teleteatros, shows, novelas, programas esportivos e jornalísticos, programas femininos, todos recheados de mensagens dos patrocinadores que apostaram na televisão e não se arrependeram.
Naquele período distante e cheio de fascínio – de 1951 a 1963 – se admirava apaixonadamente as garotas bonitas que apresentavam mensagens comerciais na TV. Apesar dos problemas técnicos e da saturação dos intervalos (que muitas vezes chegavam a durar trinta minutos), a magia da TV já existia, cercando de encantamento as primeiras estrelas da publicidade no vídeo, o primeiro mito da propaganda brasileira.
Rosa Maria, primeira garota-propaganda da TV. A idéia de utilizar uma moça bonita para apresentar um comercial surgiu na TV Tupi, pela necessidade de suprir as deficiências e a monotonia dos slides. A primeira experiência foi em 1951, com Rosa Maria, uma jovem morena, muito graciosa, que entrou no ar às 8 horas da noite para apresentação de uma oferta de Marcel Modas, loja de artigos femininos.
Por trás da garota bonita havia um trabalho penoso de produção, em virtude da TV Tupi possuir um só estúdio. A Tentação do Dia – como era chamada a apresentação comercial – ocupava apenas uma canto, onde havia um set montado com uma mesa onde ficava a mercadoria e um cartaz ao fundo. Quando estava no ar, o estúdio tinha que ficar totalmente em silêncio, esperando que o comercial terminasse para continuar os cenários do próximo programa. Meire Nogueira, garota-propaganda.
Idalina de Oliveira em comercial de TV. Foto tirada do aparelho receptor. O sucesso do comercial com as Garotas Propaganda, porém, era irreversível. Foram contratadas outras moças e aumentaram o número de apresentações por intervalo, assim como o corre-corre no estúdio: os produtos eram colocados e retirados rapidamente, desde geladeiras até objetos de decoração. E ficaram famosas as gafes cometidas por Garotas Propaganda nessa época de muitos imprevistos.
A partir de 1954, teve início uma fase da profissionalização e maior racionalização do trabalho. Novos anunciantes de produtos de consumo em massa acorreram à televisão, aumentando a concorrência entre as três emissoras – Tupi, Paulista e Record. A renda com a publicidade justificou, rapidamente, a organização de estúdios onde cada Garota Propaganda ficava em seu próprio set e a câmera ia passando de um em um. Assim, eram apresentados quatro a cinco comerciais por intervalo. As Garotas Propaganda tornaram-se um dos pontos fortes da televisão.
Idalina de Oliveira, garota-propaganda da TV Record. Quando os comerciais entraram com força na televisão, ocorreu um fenômeno peculiar: o jeito natural de falar de improviso __ que havia caracterizado os comerciais de Rosa Maria __ desapareceu, dando lugar a textos rígidos, decorados, cheios de argumentos lógicos, como era típico da Publicidade nos anos 50. No entanto, as Garotas Propaganda davam vida à frieza dos textos e sua presença constante acabou por fazer parte do cotidiano do público. Em poucos anos, eram as profissionais mais conhecidas e disputadas da TV, com fama digna dos grandes astros.
A produção ia se aprimorando: havia cenário pintado como parede de azulejos de cozinha, com janela, cortinas e outros detalhes, feito para ambientar comerciais de geladeira, de fogão, e similares. Os programas de gala eram sofisticados até nos intervalos comerciais: garota vinha de longo, em ambiente com escadarias, lustres e flores. A revistas populares davam tanto destaque às Garotas Propaganda quanto às atrizes: concursos das mais elegantes, reportagens, fofocas e tudo que cerca as grandes estrelas da mídia.
A publicidade ao vivo era a mais cara da TV e nem mesmo o filme publicitário conseguiu apagar o brilho da Garota Propaganda nesse período. Foi preciso haver uma mudança no conceito da comunicação para que isso ocorresse. O desenvolvimento tecnológico do início dos anos 60 possibilitou o uso normal do videotape, o desenvolvimento da telenovela diária, a montagem de uma infra-estrutura empresarial nos moldes modernos. Toda a programação se modificou na linguagem e no visual. A magia em torno da Garotas Propaganda foi rapidamente transferida para as novas estrelas do vídeo, as heroínas das novelas de televisão.
A criatividade entrava no ar e na moda. Anúncios e filmes cada vez mais ousados, diferente de tudo o que já era tradição na publicidade, empurraram implacavelmente as Garotas Propaganda para as páginas da história dos meios de comunicação no Brasil, lembrança de um tempo que, de vez em quando os jornais, revistas, e a própria televisão gostam de homenagear.
autora: Maria Elisa Vercesi de Albuquerque
fonte: TVBrasil 50 anos